O que esperar da Distribuição de TIC em 2022?
Presidente da Associação fala sobre lições aprendidas, avanços e perspectivas da entidade, que segue na rota de crescimento com mais engajamento e representatividade
Os desafios enfrentados na pandemia serviram de lição para o mercado, que teve de revisitar estratégias e se adequar ao novo cenário econômico e social, instaurado da noite para o dia no País e no mundo. Nesse desenho, a Associação Brasileira da Distribuição de Tecnologia da Informação – Abradisti também precisou se adaptar para prosseguir na missão de contribuir com o avanço do desenvolvimento da TI na economia brasileira.
Desde o seu nascimento, em 2010, a Abradisti registrou crescimento de 400%, saltando de dez associados para 54 em 2021. Em meio a um cenário pandêmico e nebuloso, conquistou 18 novos integrantes, um aumento de mais de 33%. Dos 114 distribuidores de TIC no mercado nacional, 44% são associados da entidade, considerando um segmento que movimenta mais de R$ 37 bilhões.
Nesta entrevista, Mariano Gordinho, presidente-executivo da Abradisti, conta um pouco sobre as transformações do mercado que levaram a entidade a fortalecer sua representatividade em um ecossistema que reúne distribuidores, fabricantes, integradores e revendedores.
O executivo acredita em um 2022 mais amadurecido, com perspectivas positivas de reconstrução de negócios na esteira de uma atuação mais diversa da entidade.
Confira a seguir!
Como a Abradisti atuou nesses últimos dois anos para minimizar os impactos causados pelo cenário pandêmico?
Mariano Gordinho: Mercado e sociedade foram pegos de surpresa com a chegada do coronavírus em 2020. Tivemos de superar o pânico e as incertezas e como lição nos deixou muita resiliência, visto que era preciso sair da zona de conforto. Não foi uma batalha individual e sim coletiva, tendo a tecnologia como aliada para dar continuidade às vidas pessoal e profissional.
O mercado se adequou para chegar a 2021, com alguns paradigmas quebrados como aceitação e adoção massiva do trabalho remoto, provando ser possível manter a produtividade e até superá-la. A necessidade de medidas emergenciais promoveu avanço tecnológico com inovações que estavam engavetadas e foram colocadas em prática, da noite para o dia, como telemedicina e teleducação.
Assim, o setor de TI passou por uma reavaliação, ganhando espaço mais estratégico, tornando-se parceiro das áreas de negócios, derrubando barreiras, eliminando silos de informações. Desafios superados, 2021 foi um ano exuberante para diversos setores. Diante desse cenário, a Abradisti fortaleceu a construção de conexões mais sólidas entre stakeholders da indústria, apoiadas na troca de conhecimento para a entrega de valor e de experiências positivas aos clientes. Preservamos nossa atuação como catalisadora de oportunidades por meio de iniciativas para desenvolver o capital relacional, estrutural e intelectual dos associados.
Qual é a importância de ter um ecossistema de negócios diverso na associação? E como a Abradisti apoiou as transformações no setor?
Mariano Gordinho: Na Abradisti, representamos empresas bastante heterogêneas (em mercado de atuação e de portes diferentes) e essa composição agrega muito valor com posicionamentos e visões diferenciadas. Esse arranjo multidisciplinar serviu para termos muitas variáveis de comportamento diante da pandemia e do novo cenário, marcado pela forte economia digital.
Nesse redesenho, os líderes tiveram papel desafiante ao longo dos últimos dois anos, porque enfrentaram uma crise inusitada. Cada empresa traçou sua estratégia, equilibrando ambientes físico e virtual, amargando impactos no planejamento.
Para minimizar o quadro, a Abradisti fortaleceu sua atuação apoiada no espírito de colaboração e engajamento e disseminação dessa prática. Compartilhar práticas bem-sucedidas ajudou e ainda ajuda muitos negócios a se recuperar e virar a chave.
Muitas empresas puderam enxergar novas oportunidades, do fabricante ao distribuidor. Distribuidores surfaram na onda de fabricantes em ascensão, escolhendo tecnologias e estabelecendo parcerias na pandemia. Embarcaram na explosão do home office.
Outros enxergaram oportunidade na venda de cadeiras próprias para escritório, ergométricas, mais confortáveis, por exemplo, que se fez premente diante da necessidade de um home office mais adequado ao trabalho intenso. Questão de visão e sensibilidade.
Quais foram as principais realizações da Abradisti em 2021?
Mariano Gordinho: Em 2021, lançamos o Programa DesenvolveRH, para discutir e auxiliar na construção de estratégias de gestão de pessoas no setor de TIC. Criamos esse programa para levar conhecimento ao gestor e despertá-lo. Esta é uma missão permanente e que também ajuda a provocar o engajamento. Aliás, provocar é uma missão da associação.
Ampliamos o Programa de Logística Reversa, que dá acesso ao sistema coletivo da gestora ambiental Green Eletron, responsável pela coleta, transporte, reciclagem e destinação correta de produtos eletroeletrônicos. É uma ação importante para a promoção de um senso de responsabilidade coletiva sobre o destino dos resíduos eletroeletrônicos.
No aspecto jurídico, intensificamos as atividades do Grupo de Trabalho de LGPD, para oferecer consultoria aos associados e facilitar a jornada de conformidade com a Lei Geral de Proteção de Dados, em parceria com o escritório de advocacia LJD.
Estamos colhendo bons frutos. Conquistamos vitória na ação sobre a classificação fiscal de placas de vídeo, que fez com que a carga tributária aplicada fosse de 2% e não de 31% e ainda a decisão judicial favorável à Abradisti, que ingressou com um mandado de segurança para impedir a cobrança de ICMS sobre software no estado de São Paulo contra os efeitos do decreto estadual que alterava a tributação.
E como fica o papel da Associação hoje?
Mariano Gordinho: A Abradisti atua como articuladora na defesa dos interesses da Distribuição de TIC no País. Essa representatividade setorial nos leva a ter mais força para negociar com o governo nossas reivindicações, por exemplo. A associação não existe para buscar vantagens individuais, estamos aqui para buscar o melhor para o segmento e criar uma forte governança.
Para tornar nossa atuação mais eficiente, contamos com um Conselho de Administração formado por gestores de algumas das principais empresas do mercado. É muita responsabilidade, pois nossos associados respondem pela movimentação de R$ 25,9 bilhões de vendas anuais e representam aproximadamente 70% do mercado total de 37,1 bilhões de reais de distribuição de TIC.
Vale destacar que quando uma empresa se associa à Abradisti, ela tem benefícios como presença institucional, representatividade setorial, apoio jurídico, portal de crédito, painel de análise de vendas e os grupos de trabalho em áreas como Fiscal e Tributário, de Crédito e Recursos Humanos, por exemplo.
Conta ainda com o suporte de estudos e pesquisas de mercado, que traça um panorama estatístico do setor de TI, chave para construção de estratégias mais assertivas para o negócio. Além do Censo das Revendas, em parceria com a IT Data, que mapeia anualmente mais de 2 mil canais de vendas atuantes no País por ano.
Como presidente-executivo da Abradisti, quais são as perspectivas para a entidade e o mercado de TIC em 2022?
Mariano Gordinho: Crescemos nos últimos dois anos, mesmo em um período conturbado. Isso demonstra a confiança dos associados e a certeza de que nosso ecossistema entende a importância da representatividade para o desenvolvimento do setor.
E mais: as organizações entenderam melhor sobre colaboração e engajamento. Sobretudo pelo avanço da agenda ESG (Environmental, Social and corporate Governance), que traduzido do inglês é Governança Ambiental, Social e Corporativa, uma avaliação da consciência coletiva de uma empresa em relação aos fatores sociais e ambientais.
Antes da pandemia, esse conceito não era praticado de forma plena pelas organizações, represando a evolução de resultados positivos. Hoje, elas têm grandes vantagens quando engajadas ao ESG, em linha com a sustentabilidade do meio ambiente, bem-estar social e governança de olho no futuro. Acredito que em poucos anos as empresas saberão ser essencial ter excelência em governança, apostar no social, mas saindo do discurso e o transformando em ações.
Acredito em um 2022 mais amadurecido, com perspectivas positivas de reconstrução de negócios. Diante de tantas mudanças, o novo ano me remete a um avanço maior da resiliência, apoiada na humanização e em tecnologias essenciais como cloud, automação e cibersegurança.
De acordo com estudo da Accenture, divulgado em 2021 e realizado com mais de 6 mil executivos de negócios e de TI do mundo, 83% reconhecem que a tecnologia se tornou parte indissociável da experiência humana. Além disso, 76% deles acreditam que é preciso repaginar os negócios por meio da colaboração humana.
Nesse contexto, a Abradisti confia na diversidade de perfis dos associados para representar o setor de TIC de maneira mais ampla, promover diálogos, parcerias comerciais e governamentais, articular debates, defender vantagens competitivas, gerar conhecimento e compartilhar informação em um trabalho colaborativo com o setor.